Uma senhora caminhava de maneira não linear em uma calçada. Ela trajava roupas simples e mal tratadas. Calçava chinelos rosa e azul, cada pé de uma cor. Em sua mão esquerda carregava uma balde cheio de sacolas. Seu cabelo era grisalho e mal cuidados. Usava um penteado digno de quem não penteava o cabelo há dias.
Ela se aproximava de uma via de mão dupla, onde teria que atravessar. Trazia consigo um sorriso singelo. Sorriso de quem não tem do que reclamar.
Seus traços eram de quem não tinha a vida fácil, ou de quem quase não tinha vida. Mas ela sorria, estava ali, firme.
Os carros passavam e a cidade continuava sua vida. Ninguém reparava naquela pobre senhora.
Ela chegou ao ponto onde iria atravessar, frente a uma faixa de pedestre. Entortando seu corpo para esquerda colocou seu tão precioso balde no chão, e levou suas mãos a cintura como quem iria esperar por bastante tempo. Mas antes que percebesse um carro parou, o motorista olhou para ela e fez sinal com a mão para que atravessasse.
Ela olhou para um lado, olhou para o outro e pareceu não acreditar naquilo, permaneceu imóvel. O gentil motorista continuou esperando a ‘dona’ atravessar. Os carros começaram a buzinar desesperadamente. Claro, eles estavam perdendo alguns segundos de suas tão valiosas e superiores vidas.
- Atravessa logo, donaaa – Gritou um ‘rei’.
- Mas que merd... Sai da frente imbecil – Berrou um ‘semideus’
Nossa simplória pedestre abaixou e rapidamente pegou seus pertences. Atravessou a rua com uma felicidade contagiante. Olhava para o motorista e balançava a cabeça positivamente, como que agradecia pela vida.
- Brigada seu moço, brigada... – Gritava a senhora.
A gentileza feita pelo motorista, embora simples, era digna e grandiosa. A dona contente continuou sua travessia olhando com gratificação para o motorista, chegou a o meio da divisão das faixas e continuou andando quase saltitante, e encantada com a educação do ‘moço do carro’.
A pista de sentindo contrário se aproximava um carro em alta velocidade. Ele não viu a pedestre, e ela ainda cega pela felicidade não viu o carro. Foi atropelada e jogada para longe. Um de seus chinelos foi parar do lado contrário ao corpo. Seu balde quebrou, e esparramou pela avenida todos seus pertences.
O sangue escorreu de sua cabeça, e a multidão se aglomerou.
- Morreu sorrindo – Disse um curioso
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