terça-feira, 29 de novembro de 2011

Imediatismo

Tenho tido preguiça de pensar. Quando se pensa menos, poupa-se mais, surpreende-se mais. Ser desligado e ‘imediatista’, é uma arte. Toda essa coisa de viver o presente é uma característica genética que todo mundo deveria ter. O futuro é construído sobre o presente, e quando se vive em função do futuro, nunca se planeja o suficiente, sempre vai haver um amanhã a planejar pela frente

Vitor Veloso

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Auto-Análise.

Numa noite destas qualquer, acordei com os olhos acesos. Não conseguia voltar a dormir. Sentia-me como se houvesse dormido por dias, semanas, ou meses. Senti um medo percorrer a espinha. E com esse medo fiquei paralisado. Não queria olhar para os lados, só para o teto, que já me era familiar, e não me apresentava nenhum perigo.

Fiquei assim, pensando por horas. Mas o engraçado é que não conseguia pensar em nada, apenas um começo de pensamento repetindo em minha mente. Quando começava desenvolve-lo, eu me perdia, e voltava ao inicio. Minha mente parecia um disco arranhado.

Meu pensamento quebrado soava um pouco arrependido. Não sei exatamente o que era, mas me sentia vazio. Sentia um arrependimento de meus atos, das escolhas. Era um pensamento pessimista, no qual, só enxergava o lado ruim das minhas escolhas.

Culpava-me por todos os acontecimentos negativos em minha vida. Desconsiderava qualquer suposição de a culpa não ter sido minha. Me auto-martirizava, me enxergava um monstro.

Em meio estes pensamentos torturantes, me via inquieto. E então fui interrompido por um barulho qualquer, vindo do lado de fora de meu quarto. Fui tomado por uma coragem assombradora, e me sentei na cama. Senti o chão frio na sola dos pés enquanto caçava meu chinelo no chão escuro. Levantei ainda no escuro, e com passos curtos me dirigi á porta. Coloquei a cabeça para fora, me deparando com a sala vazia.

Então resolvi acabar de investigar o barulho noturno. Dirigi-me a cozinha, local onde teria que passar por toda a casa para chegar.

Mantive o ritmo: passos curtos e com as mãos na parede. Ouvia o chiado dos meus dedos passando na superfície da parede áspera. Meu chinelo ao se descolar do chão fazia um barulho engraçado, no qual tentava a todo custo evitar.

Passei pelo banheiro, e nem sinal da causa do barulho. Minha visão se perdia no escuro. A falta de luz enganava minha imaginação. Qualquer feixe de luz que direcionasse aos meus olhos era um sol. Quase podia sentir minha pupila dilatando e se contraindo, tentando achar o foco.

Ao chegar à cozinha, bati a mão lentamente na parede, buscando o apagador. Havia dois botões, e eu nunca me lembrava qual era o certo. Era uma decisão vital, se errasse o botão, o causador do barulho iria ouvir o estralar falso do apagador, e eu perderia meu flagrante. Fiz mentalmente um sorteio, e optei pelo botão superior.

Errei. Assim como em todas as outras vezes, havia errado o botão. Um medo mesclado a um sentimento de fracasso, tomaram conta do frio que congelou meu coração. Então rapidamente acendi a luz, apertando o botão que me restava.

A cozinha foi tomada pela luz. Por instantes estava cego. Ofuscado pelo clarão que tomava a madrugada.

Não havia ninguém na cozinha, e em nenhum outro cômodo da casa. Havia formigas vadiando sobre a pia, entre alguns pratos e talheres. Tudo soava tão frio e distante. Parecia outra dimensão da minha cozinha.

Senti um frio por de trás da orelha, e me coloquei a caminho do meu quarto.

Deitei na borda da cama, e me encaixei no buraco que ainda não havia se desfeito do coxão. Peguei a coberta que estava jogada de lado, mas ainda com o formato das minhas pernas, e me cobri. Apaguei a luz pelo apagador, cuidadosamente instalado na parede atrás de minha cama. Fechei os olhos, e apaguei.

Tive sonhos repetidos com essa situação, e em cada um com versões diferentes. Em um deles, que me soou peculiar, eu encontrará na cozinha, outra versão de eu mesmo. O outro eu estava sentado, e parecia me esperar para alguma conversa.

Em um piscar de olhos eu já estava sentado ao seu lado. E ele me olhava com um olhar cansado, e soava um pouco mais velho.

Nossa conversa foi interessante, e me rendeu pensamentos que me acompanhariam mesmo depois de acordado. Deu-me conselhos sobre o que eu estava fazendo da minha vida, sobre meus amores e obrigações. Ele também pediu conselhos, e quis saber se minhas escolhas tiveram êxito. Pensei um pouco, e já tinha o que dizer.

Então, de repente, meu outro eu começou a parecer distante, e um telefone tocava insistentemente, bati a mão no meu bolso e lá estava o maldito celular. E em um piscar de olhos eu estava acordado. Deitado na minha cama, com meu celular me despertando. Levantei-me, e segui minha vida.

Mas agora, sempre antes de tomar uma decisão, eu me lembro daquela pseudo-conversa com meu outro eu. E me pergunto o que ele acharia da minha escolha. Depois disso, comecei a fazer escolhas melhores. Tenho vivido melhor, me aceitado mais. Aceito mais as conseqüências de meus atos. E não vivo mais tão arrependido de escolhas. Apenas entendo-as.

Ainda acordo no meio de algumas noites. E às vezes vou a cozinha ver se encontro meu outro eu. Como nunca mais o encontrei, eu bebo um copo d’água, e escorado na pia eu reflito meu dia comigo mesmo.

Mas só hoje, não sei por qual motivo, me dei conta que continuo tendo estas conversas com meu outro eu. Na verdade ele sou eu mesmo. Sempre foi.

Eu procurava na ilusão de um sonho uma pessoa para me apoiar, e conversar. Mas quem eu preciso ouvir está dentro de mim, em minha mente e coração.

A grande saída está em ouvir eu mesmo. Meu outro eu me tornou mais forte, mais confiante. Tenho consciência de meus erros, mas ao invés de me auto-flagelar, eu aprendo com eles.

Talvez, você tenha mais coisas para se dizer do que imagina. Do que precisa ouvir dos outros.

Vitor Veloso